sexta-feira, 21 de maio de 2010

Recta final


São 4h30 da manhã e eu quero por tudo acabar este relatório/tese/coisa-que-me-chateia-há-meses. Mas sinto que ainda não vai ser agora. Os olhos não pesam assim tanto mas olho para o relógio e penso que devo deitar-me. Depois olho para a tese e penso que não devo. Falta pouco, mas todos os pretextos servem para me desviar desse pouco (como atesta este post).
Quero acabar isto, quero firmemente acabar e deixar a próxima semana para as correcções mas escrevo e perco vontade...volto a ir buscar a vontade não sei onde e perco-a outra vez. Não sei se isto está bem, se vai precisar de ser revisto, muito revisto, pouco revisto, mas só a ideia de ter muito que rever assusta-me e impele-me a acabar...ou devia. Depois falta a maldita bibliografia...não custa nada?! Ai isso é que custa, é um monte de picuices, vírgula para lá, ponto para acolá, itálico aqui, negrito ali (há coisas a negrito? Já não sei...)
Voltemos ao trabalho.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O meu avô


O meu avô era um homem de poucas palavras. Mas bastava falar-se em comboios para ele desfiar histórias de uma vida sobre carris. Carris muito antigos, do tempo da sua vida de guarda-freios.
Conjugava um ar circunspecto com um sorriso sempre pronto. Pelo menos a mim sempre o mostrou, posso orgulhar-me disso. Sofreu a ausência da minha avó, a sua companheira, falecida há 20 anos, e dela guardou muito (até os óculos) mas nem por isso deixava de lado o tal sorriso e o sentido de humor para encarar as maleitas que iam aparecendo - poucas, em abono da verdade. Se lhe perguntavam pela saúde, só apontava defeito às "rodas", cansadas de quase nove décadas de locomoção. Não escondia a idade, mas enquanto os algarismos permitiram optou sempre por uma saudável troca: afinal, 68 é mais simpático do que 86, ou não?
O meu avô era crente, profundamente crente. A sua casinha junto ao rio estava cheia de provas dessa crença inabalável. As idas madrugadoras à igreja, fizesse chuva ou sol, não ficavam atrás. Estou certa que essa crença o tranquilizou.
Contentava-se com pouco: poucos agasalhos, quase nenhum conforto. O pouco que tinha era quase forçado. Preferia ser generoso com os seus. Teria, pois, muito a ensinar a esses que se dizem cristãos.
Hoje, dia 14, faz dois meses que o meu avô faleceu. Pensei muito antes de escrever sobre ele, e se este blogue fosse mais "público", talvez não o fizesse. Afinal, nunca gostei de abordar temas privados. Mas hoje, senti essa vontade. E aqui fica esta simbólica homenagem, em nome de outras que lhe deveria ter feito em vida.
E nesta altura, gostaria de partilhar um pouco da sua crença, para que o adeus forçado pudesse converter-se num Até Sempre.