quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Teresa












Teresa Lewis podia optar: injecção letal ou cadeira eléctrica. Não conseguiu, pelo que lhe foi administrada a primeira opção.
Teresa Lewis estava assustada. Aterrorizada. Foi a primeira mulher em 98 anos a ser condenada à pena capital no estado da Virginia.
Teresa confessou ter planeado os homicídios do marido e do enteado. Um dos cúmplices também confessou em troca de ser poupado da sentença de morte, sendo-lhe aplicada "apenas" prisão perpétua. O outro levou a mesma sentença, porque o juiz não achou justo condená-lo a uma pena maior do que a do companheiro. Justo ou não, ele suicidou-se em 2006.
A Teresa, nem foi dada a opção de suavizar a pena, se é que ficar encarcerado o resto da vida suaviza o que quer que seja. Mesmo assim ela admitiu, mas foi condenada por ter orquestrado tudo, pela suposta responsabilidade moral. Ela, que ao que consta também dependia de medicamentos e tinha um QI anormalmente baixo, para além de ser uma pessoa facilmente manipulável. É o que dizem.

Segundo a edição on-line do Guardian, até Ahmadinejad tirou partido da situação, criticando o modo como o ocidente empolou a história da lapidação de Sakineh, ao mesmo tempo que permitia que esta mulher tivesse o mesmo fim. Não pelos mesmos meios, é certo, mas a comparação do presidente do Irão, por muito desagradável que possa ser, tem cabimento. Se os EUA querem continuar a erguer bandeiras de direitos humanos por esse mundo fora, só lhes fica bem limpar a casa. E acabar com as hipocrisias, dentro e fora de casa.

(Foto: Ho/AFP/Getty Images)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Impressões de uma estreante















É bonita. É acarinhada. É feita com tanto suor quanto empenho. A Festa do Avante! tem tudo: jovens em busca do ambiente festivaleiro, jovens revolucionários, menos jovens militantes até às entranhas e fiéis ao "Partido" para todo o sempre. O Partido é a sua casa, a sua alma. Vestem-no por dentro mas também o ostentam por fora, em t-shirts, boinas, bandeiras e numa fidelidade inquebrável.
O socialismo, a solidariedade, a camaradagem, a entreajuda. Está lá tudo. De todo o lado. De Viana ao Algarve, passando pelas ilhas, gastronomia, artesanato e música para todos os gostos. E os vegetarianos não foram esquecidos.
É, pois, uma festa multitemática, mas onde todos ou quase todos os caminhos vão dar à muito bem organizada (goste-se ou não, tem de se lhe tirar o chapéu) propaganda comunista. Um exemplo: no espaço Cineavante, exibição de Pare, Escute, Olhe, premiado documentário de Jorge Pelicano sobre a degradação da Linha do Tua, com direito à presença do realizador...acompanhado por alto dirigente comunista a fazer notar à plateia que para endireitar o rumo dos comboios no Tua é preciso mudar o rumo...dos votos, e trocar o bloco central pelo PCP, pois claro.
A tentadora Feira do Livro destaca os 140 anos do nascimento de Lenine, homenageia Saramago, Ary, mas também coloca a religião, Salazar e outros que tais entre as sugestões mais vermelhas. Aí, não há como não reconhecer o pluralismo.
Palestra sobre Imperialismo, Energia e Militarismo: desfiar da visão comunista do mundo. Muita coisa a fazer sentido, muita coisa idílica, mas também alguns questionamentos. Será que Cuba e Venezuela são assim tão perfeitos?
Outra vez Cuba no comício de encerramento: "contem connosco", promete Jerónimo. Para combater o embargo? Justo, sem dúvida. Mas e o resto? E as liberdades?
Para a política nacional, a defesa intransigente dos mais necessitados e tudo o que há de mais belo no ideal comunista. Um mar de bandeiras vermelhas, estrategicamente distribuídas antes do comício.
Dá vontade de voltar, dá vontade de não sair de lá, quiçá de ajudar a erguer a festa e às vezes até de esquecer a parte de Cuba, Venezuela ou a (singela, diga-se) barraca da Coreia do Norte.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Não podíamos? Paciência...


Carlos Mota encontra-se em parte incerta há muito. Carlos Mota já foi dado como morto. Carlos Mota pode ser inocente, pode ser culpado. Não sabemos. Mas nada dá o direito à Sic de pôr no ar uma entrevista ou fragmentos de uma entrevista cuja difusão Carlos Mota não aceitou. Não cabe a nenhum jornalista fazer de juiz ou castigar quem quer que seja, e muito menos difundir conteúdos sem autorização do visado. É feio. Não é ético. Nem sequer é serviço público, porque não vemos Carlos Mota a confessar seja o que for, só a dar justificações que nos podem parecer esfarrapadas, mas por mais esfarrapadas que pareçam isso não nos dá o direito de passar por cima de todas as regras e de nos armar no que não somos.

Praia? Só no Inverno

Não sou amante de praia. Prefiro coisas mais agrestes. Mas o que não suporto mesmo é não haver onde colocar o pezinho, quanto mais a toalha. E tudo por umas horas a torrar, em nome de um bronzeado que dois meses depois já nem nos lembramos de ter tido. Se a sessão de solário natural for no norte do país ou outras zonas de água gélida, nem com a água podemos contar para refrescar o tédio. E se a ventania se juntar à festa, nem um livro ou jornal do dia podemos ler sem levar com as páginas nas trombas. E sabemos a vida toda de quem está ao lado, em frente, acima, abaixo, não porque tenhamos pedido, mas porque estão todos a dois centímetros. E pior, não desfrutamos da praia propriamente dita. Sim, porque o sol é o sol e está lá sempre, mas a praia, meus amigos, a praia é o barulho das ondas e o cheiro a maresia, o mar revolto em toda a sua beleza e força. Onde apreciam isso em Agosto? Barulho, só da mescla de vozes. Cheiro, só se for do protector solar.
Por isso, meus caros, praia a sério é no Inverno, com o vento a beijar-nos e o dito cheiro a maresia a infiltrar-se-nos nas narinas, na pele, em toda a parte. As ondas a bater e uma ou outra gaivota destemida à procura de um incauto peixe. O sargaço e as rochas onde os há, e tudo isto é praia.