sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Hope? What hope?



Vídeo relembrado por quem partilha as angústias de viver a morte deles diariamente. Por vezes, apercebo-me do quão terrível é a realidade que testemunhamos quando a vejo reproduzida tão fielmente neste tipo de coisas. Está lá tudo. Os casos de abandono e maus tratos com os quais lidamos diariamente, os rostos suplicantes daqueles que às vezes parece que sabem que têm os dias contados e as saudades que as partidas (demasiadas) nos deixam.
O canil municipal de Braga não é diferente dos outros. Todos os dias entra por aquela porta o que a indiferença humana faz a quem não tem como se defender, a quem não tem voz para gritar contra as injustiças a que é submetido. A diferença é que nós estamos lá para lhes dar algum conforto, até ao momento da adopção ou do último suspiro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Aqui na (minha) Terra




O road Aqui na Terra, terceiro livro do Miguel Carvalho, faz a próxima paragem esta quinta-feira, às 18h30, na "minha" cidade dos arcebispos, no conforto da Centésima Página, em plena Avenida Central. Será a primeira vez que vou a duas apresentações do mesmo livro, mas o caso justifica. Passada a curiosidade suscitada pelo lançamento, é tempo de participar nas reflexões já com o livro "devorado". Da morte do padre Max à história dos cidadãos de Fátima, com a sua miséria escondida por detrás da opulência do santuário, passando por um roteiro singular pelos cemitérios do Porto, o livro é uma sucessão de estórias contadas com a sensibilidade de um olhar verdadeiramente humano, que vê muito, mas muito para além do óbvio. Por isto, pelos valores que o Jornalismo devia carregar todos os dias (e que estão lá), e pelo Miguel, vale a pena.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Entre os afagos do Gato Vadio...


A Rota das Noites do Zeca começou ontem no Gato Vadio, um magnífico café-livraria no Porto. Poderia chamar-se "Gato Esquivo", de tão difícil de encontrar. À entrada, detemo-nos com os livros. Depois, "esquivamo-nos" para a cafetaria a meia luz com mesinhas de madeira antiga. Por fim, e se o tempo estiver de feição, é altura de nos "esquivarmos" para o último reduto, um pátio com árvores que nos acolhem de galhos abertos, um sofá e mesas pequenas para nos aconchegarmos ainda mais. A juntar a tudo isto, a simpatia de quem nos recebe pela primeira vez como se já fôssemos da casa. João Teixeira e Carlos Andrade encarregaram-se (e muito bem!) da parte musical, onde também couberam Adriano e Manuel Freire. Pelo meio, poemas do Zeca e outros e uma singular interpretação da Utopia, sem música, tal como o Zeca a cantou, feita pela Ana, um prodígio vocal da Associação José Afonso.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Recordando...

Saramago, a Igreja, os livros e a polémica


A discórdia entre José Saramago e a Igreja já vem de longe. O ateísmo do Nobel e a ironia que verte para os seus textos são sobejamente conhecidos e, volta e meia, despertam a fúria dos sectores religiosos.
Partilho com Saramago o ateísmo, e acho que mereço ser respeitada como descrente, assim como acho que qualquer crença deve ser merecedora do mesmo respeito. Por esta mesma razão, tentei despir a capa ateia para perceber melhor o lado de quem se sinta ofendido. Mas, sinceramente, há coisas que me escapam. Se certos sectores da Igreja vêm a público dizer que o escritor só quer protagonismo, então por que são os primeiros a conceder-lhe esse protagonismo? Se estão tão seguros das verdades inabaláveis contidas na Bíblia ou nas inquestionáveis qualidades do Deus que seguem, por que se preocupam com alguém que não pensa como eles? Por que é que a Igreja Católica há-de ter duas horas de antena em cada manhã de domingo na rádio pública e quem discorda do que lá se diz não pode ter um minuto de antena?
Acho que já é tempo de equilibrar as coisas e de a Igreja aprender a viver com quem não se rege pela sua batuta e não tem medo de o expressar. A Igreja e o eurodeputado Mário David.

Portugal e os circos


O Governo português surpreendeu e muito com a iniciativa de acabar com a utilização de animais em circos. Para um país gritantemente alheado da protecção aos animais, esta medida deixa-nos quase como o Nobel de Obama: sem saber muito bem o que pensar. A lei não é perfeita. Os animais domésticos não são abrangidos. O circo Atlas já incorpora há muito números com cãeszinhos a fazer habilidades, não será de admirar que outros lhe sigam os passos. Os donos dos circos não podem permitir a reprodução dos seus animais, mas contra isso já vozes discordantes se insurgiram e vieram prontamente desafiar a lei. Quem fiscaliza? Quem garante que a exibição de animais em circos não vai continuar, sob a capa de reproduções acidentais, compras ilegais e sabe-se lá mais o quê? Criar a lei é um grande passo, mas é preciso garantir um acompanhamento efectivo, em vez de tratar a questão como um problema menor, como acontece em regra com as problemáticas ligadas aos animais (lembremo-nos que até o único partido português anti-rodeos fecha os olhos a dissidências nessa questão. Pergunto-me se se desse o caso de a senhora defender a privatização de todos os serviços de Salvaterra, seria tratada com a mesma tolerância. Se calhar, o que serve para uns casos, não serve para outros...).
Resta-nos estar atentos e não abandonar a luta ao primeiro sinal de entendimento.

sábado, 17 de outubro de 2009

Há sempre alguém que resiste...





...e ontem foram muitos os resistentes. O Piano Bar do Clube Literário do Porto não chegou para albergar todos aqueles que se quiseram juntar ao tributo a Adriano Correia de Oliveira. A voz magnífica de Helena Sarmento trouxe-nos a Menina dos Olhos Tristes, o Grupo de Fados do Instituto Superior de Engenharia do Porto presenteou-nos com um original feito a partir do poema As Mãos, que Adriano tão bem cantou e o Zeca, amigo e companheiro de canções, não foi esquecido. O público ajudou e entoou o Menino do Bairro Negro, a Lira e a noite fechou, como não podia deixar de ser, com a Trova do Vento que Passa.
Adriano Correia de Oliveira morreu há 27 anos. Cabe-nos mantê-lo vivo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Green Mile existe...


A triste e revoltante história de Joaquín José Martínez chegou esta semana à imprensa portuguesa. Depois de uma longa batalha judicial, este equatoriano (quem sabe, a nacionalidade não é um factor tão insignificante...) conseguiu finalmente ver revogada a sentença que o condenara à morte numa prisão dos EUA. Durante três anos de martírio, Joaquín Martínez viu por diversas vezes as luzes da prisão a acender e a apagar sempre que a cadeira eléctrica era ligada para ceifar mais uma vida. Cadeira eléctrica em 1997...nos Estados Unidos... Depois as avarias, as cadeiras que funcionavam mal (perfeitamente desculpável, afinal qual é o sistema que não tem falhas?!) e as pessoas ardiam. Ainda em 1997. Depois lá chegou a injecção letal, vá... Agora, Joaquín refez a sua vida e está optimista: acha que os EUA vão juntar-se ao grupo de países abolicionistas. Assim seja.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Primeiro Zeca, agora Adriano




Na minha curta estadia no Porto, fui duas vezes ao Clube Literário (CLP). O motivo foi o mesmo: Zeca. Sim, sim, eu caio na repetição em certas coisas, mas já que (quase) ninguém fala nisto, hão-de perdoar-me a insistência.
Esbarrei no CLP num passeio nocturno pela baixa, e na montra decorada com a fotobiografia e livros de poemas do Zeca. Informei-me e fui a duas sessões.
Na próxima sexta, esta casa volta a homenagear um grande músico português, ainda mais esquecido que o Zeca, talvez por ter morrido cedo, talvez não.
Parabéns ao CLP pelo esforço de os manter vivos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Amália (e outros) FM









Por estes dias em que se assinalam os 10 anos da morte de Amália, nasce uma estação de rádio que a homenageia. Nem só da fadista que cantava o seu próprio nome se faz a rádio alojada em 92.0, pois há lugar para outras vozes e outros tempos, mas o nome já diz muito.
A intenção de prestar tributo e de não deixar cair no esquecimento a diva que projectou a música portuguesa numa época em que Portugal estava arredado do mundo é sempre louvável, mas se calhar...convinha começar a mudar de ares. Vejamos: uma nova rádio, o sucesso estrondoso dos Amália Hoje, o filme que deu série, os programas televisivos... Muito se tem falado de Amália. Ao mesmo tempo, outros caem no esquecimento. Por que razão é que os 80 anos de Zeca Afonso, que se comemoram este ano (é, é, os que não se aperceberam ficam agora a saber) são tão pouco divulgados? Caramba, não estamos a falar de um poeta e músico extraordinariamente multifacetado, que a própria Amália elogiou (pois é)? O que se faz para preservar a memória de um poeta que tanto nos enriqueceu e que tanto SOFREU para ajudar a construir um país melhor? Faz a Associação José Afonso, honra lhe seja feita, que aqui e ali vai tentando impedir que a memória do Zeca se perca, e esbarrando nas barreiras montadas por aqueles a quem o Zeca não interessa, para não dizer pior. E que mediatização teve o projecto de Cristina Branco, em relação aos Amália Hoje? Pois...
Já agora, o Zeca cantava fado, uns belíssimos Fados de Coimbra, ponto de partida para a longa e inigualável carreira. Também terão lugar na nova estação de fado?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A arte de fazer roteiros


















O caderno P2 do PÚBLICO traz-nos diariamente uma extensa agenda com os mais variados espectáculos, programação televisiva, cinematográfica, reportagens alargadas, etc. Alguns desses eventos são alvo de especial atenção, passando para a coluna do destaque (do lado esquerdo da página) ou merecendo um destaque interior (ficha técnica + pequeno texto). Isto é feito a partir dos comunicados recebidos dos gabinetes de imprensa das salas de espectáculo, geralmente. Papinha feita, dir-me-iam. Quase. Recuperando a expressão usada por Jerónimo de Sousa nos Gato Fedorento, eu percebo tanto de...vamos lá ver...ópera como de "lagares de azeite". É como andar em tijoleira molhada. Ou damos passos cuidadosos ou esparramamo-nos. Mas e o comunicado? Não tem tudo? Pois, mas aqui temos duas opções. A primeira, da tijoleira seca, é fazer uma espécie de copy/paste do comunicado, o que me parece muito feio, a bem dizer. Não é bonito assumir que foi o jornal a escrever aquele texto quando o mais próximo da verdade seria dizer que foi feito pelo gabinete de imprensa do teatro X. A outra opção é interpretar e dar a volta ao texto, e quem sabe ir buscar informação extra, se ainda couber nos 800, máximo 1000 caracteres. E aqui a escorregadela pode surgir a qualquer momento.

EUA, 15 de Setembro de (pasme-se!) 2009!




Tanta coisa nos traz à cabeça a expressão "em pleno século XXI". Que me tenha apercebido, o facto de a pena de morte continuar a ser uma realidade em países ditos desenvolvidos e evoluídos não consta propriamente do top da lista. Há até quem defenda, num país pioneiro no abolicionismo como Portugal, o seu regresso (oxalá o nosso sistema judicial tendencialmente garantista nunca volte a permitir tamanha atrocidade).
Ainda que a pena de morte continue a ser uma realidade, aqui e ali, de oriente a ocidente, com técnicas mais ou menos aviltantes, dependendo do local onde ocorre como é possível que um país que tem a pretensão de melhorar a vida de cidadãos iraquianos, afegãos e sabe-se lá mais a quem (não interessa os métodos, não é?) pode permitir tamanho atentado à dignidade humana dentro de portas?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vida tão estranhamente boa



Banda sonora da partida para o Porto. A reviravolta quase a fez cair no esquecimento, até que a rádio a recordou.