domingo, 13 de março de 2011

Manual de governo ou a fúria neoliberal em 12 passos


A Visão desta semana traz um resumo das ideias de Pedro Passos Coelho para o país em 12 áreas fundamentais. Uma espécie de roteiro pelo Portugal laranja, algo que vai tomando uma forma cada vez mais consistente.
Se algumas ideias até parecem formas simples de acabar com inúteis sorvedouros de dinheiro público (como o fim dos Governos Civis), outras fazem a deriva direitista do governo Sócrates parecer um estágio. Ora vejam:

"Baixar os impostos sobre os lucros em vez de atribuir subsídios".

"Criar um regulador das escolas, para permitir antecipar os ganhos de performance à medida que o Estado se retira da gestão directa da Educação" (esta dos ganhos na educação vão ter de me explicar. Suponho que também não sejam para tributar...)

"Reduzir os pagamentos por trabalho ao fim-de-semana e feriados, como alternativa ao corte e salários" (e cortar nos salários dos patrões, não?)

"Apostar nas eólicas offshore [em mar-alto] dando concessões a empresas nacionais e estrangeiras" (desculpe, mais offshores?)

E a minha preferida:

"Permitir a redução de salários durante um período de 18 meses em caso de dificuldades financeiras extremas das empresas. Estas deverão compensar as perdas quando regressarem aos lucros" (ponto número 1: como se define uma situação de dificuldade financeira extrema e quem tem legitimidade para a declarar? Ponto número 2: será que Pedro Passos Coelho e os seus conselheiros não vêem que essas dificuldades financeiras extremas se vão transferir para as famílias? E que estas, por conseguinte, vão perder ainda mais poder de compra e contribuir para a estagnação da economia?)


O dia da unidade


Era o protesto da geração dos recibos verdes, dos estágios não remunerados e da casinha dos papás. Mas não faltaram rugas nem carrinhos de bebé. Pais apreensivos a ver por água abaixo um futuro para os filhos em que tanto investiram; pais precários a ver com apreensão que futuro podem proporcionar aos seus filhos que ainda não largaram a chucha.

Cartazes, palavras de ordem, velhos slogans, novos hinos e fórmulas reinventadas ("O povo passivo jamais será unido").
Artistas e bolseiros de investigação científica desfilaram lado a lado da Praça da Batalha à Praça da Liberdade, no Porto. Uns cheios de garra, outros quase em ritmo de passeio. Afinal, a miséria ainda não tomou conta deles, e isso via-se pelas inúmeras máquinas fotográficas que documentavam o momento, inalcançáveis para alguns bolsos.

Ainda assim, há quem conte os tostões e quem não se possa dar ao luxo de fazer planos de futuro.
Há até quem sirva uma respeitável instituição pública e depois veja parte dos seus esforços extra, de fins-de-semana e feriados, habilmente desviados para os bolsos dessa mesma instituição, pública, sim, até ver.

Neste 12 de Março, o protesto da Geração À Rasca, foi, afinal de contas...geracional. E transversal, pois os ecos fizeram-se sentir por todo o país.
Aguardemos, agora, os próximos capítulos, caso os haja.