sexta-feira, 30 de abril de 2010

O parque




O Parque da Ponte faz parte das minhas memórias de infância. Passei lá muitas tardes com os avós maternos, fiz corridas à volta do lago e bebi água numa pequena fonte, defronte de outro pequeno lago. Cheguei a andar de barco no lago maior, já mais tarde, com professora e colegas de escola.
Voltei lá hoje, volvidos alguns anos e uma remodelação. Não reconheci o velhinho Parque da Ponte. Procurei então a pequenina fonte, a referência que melhor orientaria a minha memória. Curiosamente, paraceu-me ainda mais pequena. Todo o parque me pareceu mais pequeno (cresci, pois). Já não há barcos, as árvores parecem menos e uma parte do lago está ocupada por uma nova esplanada - em formato barco, portanto, em abono da verdade, ainda há um barco - de um bar ladeado pelo restaurante O Lago, de onde, por qualquer razão que me escapa, sai um desenquadrado disco sound...
A velhinha estufa, cujo aspecto abandonado e vidros partidos a minha memória recorda, foi transformada numa videoteca. Há escadas novas. O chão já não é de terra batida e há caminhos a conduzir ao estádio 1º de Maio. Dantes só havia percursos íngremes.

O estádio




Revisitado o parque, por que não voltar ao estádio?
O novo fôlego dado pela requalificação contrasta com o abandono a que o velhinho 1º de Maio está votado. Os marcadores electrónicos (que já à época dos jogos davam de si) estão agora semi-destruídos pelo tempo e talvez algo mais, não sei. A pista de tartan continua a ter serventia mas basta percorrer o recinto a toda a volta para perceber os efeitos da mudança da equipa de futebol para Dume. Secretaria fechada e outros serviços deslocalizados (que será do museu?...). Ali, velhas guardas, automobilismo e pouco mais. Continuando a subida, os sinais de abandono tornam-se inequívocos. Os antigos acessos às bancadas (lateral, central, superior central, superior e lateral novamente) parecem inactivos há décadas. Dos torniquetes onde introduzíamos o bilhete, só restam os ferros laterais. De resto, portas enferrujadas fechadas a cadeado, lixo e folhagem. De caminho, uma cadeira (abandonada, também??)no corredor do camarote.
Ironicamente, o mais bem conservado parece ser o "campo velho", ou campo da Ponte, como chamávamos ao relvado junto ao pavilhão Flávio Sá Leite onde a equipa principal treinava e as camadas jovens jogavam, se não me falha a memória. E por falar no pavilhão, parece-me que tem uma pintura nova.

(As fotos são de J. Braga)

terça-feira, 20 de abril de 2010

II Fórum Roosevelt - Açores






A perspectiva era boa: regressar à ilha Terceira tendo como pano de fundo a política internacional. Acabou por concretizar-se numa ideia martelada durante três dias de conferências - a importância geoestratégica dos Açores e particularmente da base das Lajes. Martelada quer por açorianos desejosos de mostrar os seus créditos ao mundo, quer por teóricos a realçar a evidência do mapa. Os Açores estão mesmo entre Portugal continental e os EUA, e isso conta para alguma coisa, ainda para mais num fórum organizado pela Fundação Luso-Americana.
Ao esmiuçar a coisa, percebemos que a principal missão da base das Lajes está nas operações de busca e salvamento, não obstante a dita localização que tanto agrada...aos norte-americanos, ou não fossem eles instalar-se por aquelas bandas durante a II Guerra. E, aproveitando a presença de general e coronel, que tal falar do alegado transporte de prisioneiros para Guantánamo? Não, não foi uma ideia muito bem recebida, até porque os militares só executam as ordens do Governo. Mas o senhor coronel diz que o Governo não declarou prisioneiros. Ou seja, ficámos a saber o mesmo.

E por falar em norte-americanos, muita verborreia correu acerca da NATO e uma possível revisão do seu campo de actuação (aguardemos expectantes pela cimeira em Lisboa já este ano). Falou-se na NATO para atacar as alterações climáticas mas também para atacar o narcotráfico em África. Questão delicada esta, ou não se temessem reacções menos simpáticas no Magrebe. E, já agora, para os amis desconfiados, o que vai a NATO fazer a África? Acabar com as redes de tráfico? E em nome disso instalar uma bomba-relógio pronta a explodir nos países islâmicos? E o subsolo africano, não estará a pairar em algumas cabecinhas?

Pouco antes das despedidas, a visão norte-americana, trazida pelo senhor David Ballard, chargé d'Affaires (estava assim no programa) da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa (também estava assim no programa). Afinal, o empolar das relações transatlânticas só se verifica na direcção Este-Oeste. Para o senhor Ballard, o Tratado de Lisboa importa para construir uma Europa forte, isto porque "os Estados Unidos querem uma Europa forte". Os mesmos Estados Unidos, que, a fazer fé no diplomata, precisam da NATO (aqui entra a Europa forte) para se defenderem da Rússia, não propriamente para que a Europa retire dessa aliança particular benefício. Até porque nós, europeus bárbaros, temos andado a "matar-nos uns aos outros durante séculos" até à II Guerra Mundial e só agora ganhámos juízos. "Good for you", aplaude o desinteressado senhor Ballard, representante de um país que "não acredita na supremacia de nenhum território sobre o outro" (e aqui entra o conveniente exemplo da Rússia em relação à Geórgia) mas diz a peito cheio que os EUA têm "uma agenda cheia para a segurança europeia".

Seria, portanto, difícil arranjar um fórum mais proveitoso, com tanta utilidade no que toca ao aclarar de certas posições e, claro, ao enriquecimento da bagagem no que toca às relações transatlânticas.

Para rechear em beleza os intervalos entre a faladura, as saudáveis discussões com malta do sul sobre o sotaque e não só. Ficam as boas relações e a vontade para os reencontros, com ou sem Roosevelt pelo meio.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobram crianças (e pais também)












O número de adolescentes internados em instituições tem vindo a aumentar. Os candidatos a pais adoptados querem o filho "ideal". Sem deficiências, com menos de três anos e...branco. O número de pais a internarem os filhos por não conseguirem lidar com problemas comportamentais aumenta. O número de menores retirados às famílias também.
Os diários de hoje, quinta-feira, traçavam o perfil das crianças e jovens institucionalizados. Há entraves burocráticos (afinal, quem adopta tem de ser escrutinado) mas ao que parece não são as mais significativas.
Perante uma perspectiva de crianças a passar anos e anos institucionalizadas e pais demasiado selectivos para os quererem (já para não falar das dificuldades de integração na nova família, que por vezes culminam em devolução) como pode o Estado vedar a adopção a uma parte significativa da população, tendo por base a orientação sexual? Como podemos encarar estes dados sem apontar o dedo à legislação discriminatória (e, soube-se hoje, sem inconstitucionalidade!)?
Um casal que decida ter um filho por meios naturais (ou que o tenha sem sequer ter pensado nisso) não vê as suas qualidades parentais escrutinadas. Como pode um Estado democrático vedar a adopção aos casais homossexuais sem sequer lhes dar a oportunidade de serem escrutinados?

(A foto é do Diário de Notícias)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Novas da Páscoa










Mesas cheias. Bolos caseiros. Afectos vários e renovados, tudo em família. Canalha a correr de um lado para o outro e a fazer os ainda novos parecerem velhos de tão desactualizados nas brincadeiras. Sossego, só na hora das amêndoas e dos ovos de chocolate. Mais afectos e sorrisos. Mais uma fatia de bolo. E tudo isto com campos a perder de vista e um apeadeiro mesmo à mão, que só deveria servir para chegar, nunca para partir.