terça-feira, 20 de abril de 2010

II Fórum Roosevelt - Açores






A perspectiva era boa: regressar à ilha Terceira tendo como pano de fundo a política internacional. Acabou por concretizar-se numa ideia martelada durante três dias de conferências - a importância geoestratégica dos Açores e particularmente da base das Lajes. Martelada quer por açorianos desejosos de mostrar os seus créditos ao mundo, quer por teóricos a realçar a evidência do mapa. Os Açores estão mesmo entre Portugal continental e os EUA, e isso conta para alguma coisa, ainda para mais num fórum organizado pela Fundação Luso-Americana.
Ao esmiuçar a coisa, percebemos que a principal missão da base das Lajes está nas operações de busca e salvamento, não obstante a dita localização que tanto agrada...aos norte-americanos, ou não fossem eles instalar-se por aquelas bandas durante a II Guerra. E, aproveitando a presença de general e coronel, que tal falar do alegado transporte de prisioneiros para Guantánamo? Não, não foi uma ideia muito bem recebida, até porque os militares só executam as ordens do Governo. Mas o senhor coronel diz que o Governo não declarou prisioneiros. Ou seja, ficámos a saber o mesmo.

E por falar em norte-americanos, muita verborreia correu acerca da NATO e uma possível revisão do seu campo de actuação (aguardemos expectantes pela cimeira em Lisboa já este ano). Falou-se na NATO para atacar as alterações climáticas mas também para atacar o narcotráfico em África. Questão delicada esta, ou não se temessem reacções menos simpáticas no Magrebe. E, já agora, para os amis desconfiados, o que vai a NATO fazer a África? Acabar com as redes de tráfico? E em nome disso instalar uma bomba-relógio pronta a explodir nos países islâmicos? E o subsolo africano, não estará a pairar em algumas cabecinhas?

Pouco antes das despedidas, a visão norte-americana, trazida pelo senhor David Ballard, chargé d'Affaires (estava assim no programa) da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa (também estava assim no programa). Afinal, o empolar das relações transatlânticas só se verifica na direcção Este-Oeste. Para o senhor Ballard, o Tratado de Lisboa importa para construir uma Europa forte, isto porque "os Estados Unidos querem uma Europa forte". Os mesmos Estados Unidos, que, a fazer fé no diplomata, precisam da NATO (aqui entra a Europa forte) para se defenderem da Rússia, não propriamente para que a Europa retire dessa aliança particular benefício. Até porque nós, europeus bárbaros, temos andado a "matar-nos uns aos outros durante séculos" até à II Guerra Mundial e só agora ganhámos juízos. "Good for you", aplaude o desinteressado senhor Ballard, representante de um país que "não acredita na supremacia de nenhum território sobre o outro" (e aqui entra o conveniente exemplo da Rússia em relação à Geórgia) mas diz a peito cheio que os EUA têm "uma agenda cheia para a segurança europeia".

Seria, portanto, difícil arranjar um fórum mais proveitoso, com tanta utilidade no que toca ao aclarar de certas posições e, claro, ao enriquecimento da bagagem no que toca às relações transatlânticas.

Para rechear em beleza os intervalos entre a faladura, as saudáveis discussões com malta do sul sobre o sotaque e não só. Ficam as boas relações e a vontade para os reencontros, com ou sem Roosevelt pelo meio.

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